Com 18 anos de história no Carnaval curitibano, a Escola de Samba Leões da Mocidade vive um momento de crise. E não só pelo mau desempenho na avenida, que culminou no rebaixamento da instituição para o Grupo de o em 2026. Mas também por questões políticas.
Nesta semana, 200 componentes da escola divulgaram um manifesto pedindo que uma “eleição verdadeira e democrática” seja feita para definir a nova direção da entidade. O atual presidente, por sua vez, rechaça as acusações de que o pleito que o reelegeu teria sido feito de forma sorrateira. Mais que isso, ainda culpa a polarização política pela situação da escola.
O pleito da discórdia 1m16g
A eleição que agora é motivo de discórdia entre os componentes da escola foi realizada no último dia 29 de abril. Na ocasião, Wilson Paulino acabou reeleito como presidente da instituição, junto com uma nova diretoria. Ele já está no comando da escola desde 2021 e se garantiu por, pelo menos, mais três anos no comando da Leões da Mocidade com a reeleição.
Diversos componentes da escola, no entanto, acusam que esse pleito teria sido realizado “na surdina, numa ação sorrateira conhecida apenas por um punhado de pessoas, sem que sequer toda a diretoria fosse avisada, sem nenhuma mensagem nas redes sociais ou grupos de WhatsApp”. No manifesto divulgado nos últimos dias, inclusive, também é apontado que tal eleição teria se tratado de “um processo ardiloso, sem qualquer transparência”. Por isso, agora pedem a realização de um novo pleito, uma “eleição verdadeira e democrática”, a ser amplamente divulgada para toda a comunidade da escola.
“Ele [Paulino] fez isso escondido. Eles registraram em cartório uma suposta convocação pra reunião no dia 18 de fevereiro, durante o processo de Carnaval. Estavam rolando ensaios, preparação de fantasias no local. E ninguém da escola viu essa convocação, porque ela foi forjada, não existiu de verdade. Foi um documento feito retroativamente para justificar o que eles fizeram. Todo mundo estava na quadra. Se algo desse nível tivesse sido exposto num lugar frequentado por centenas de pessoas, todo mundo teria visto, comentado e se preparado [para a eleição]. Então essa convocação nunca existiu. Foi tudo feito na surdina”, afirma Sesóstris Oliveira, que é Mestre de Bateria da escola desde o Carnaval de 2018 e um dos signatários do manifesto divulgado recentemente.
Wilson Paulino, por outro lado, se defende dizendo que o estatuto da Leões da Mocidade foi respeitado, inclusive com todo o processo eleitoral sendo conduzido com a assessoria de um advogado independente.
“As pessoas estão questionando porque não divulgamos amplamente nas redes sociais a realização dessa assembleia. É porque o estatuto diz que [a convocação da eleição] pode ser publicado no mural da sede da associação, e foi publicado. A sede abre todos os finais de semana. Muita gente viu, muita gente soube do processo. Procuramos seguir tudo dentro dos prazos legais, a comissão [eleitoral] definiu as regras para o processo eleitoral, a data da assembleia E eleição foi no dia 29 de abril. Tudo dentro do estatuto, seguindo o estatuto”, alega o presidente reeleito.
Polarização política justificaria a pouca publicidade dada à eleição z54i
Ao Bem Paraná, Wilson Paulino reconheceu que não foram divulgados comunicados sobre a eleição em grupos de WhatsApp ou outras redes sociais da Leões da Mocidade. Mas segundo ele, isso não aconteceu porque a escola estaria sofrendo com uma polarização entre seus membros, um problema que estaria se arrastando desde que a escola anunciou que homenagearia o centenário do Athletico Paranaense em seu desfile deste ano.
“Tivemos resistência na escola depois que nossa escola foi levar o enredo do Athletico. Há pessoas que entendem que o Petraglia é de direita e por isso não poderíamos homenagear ele. E aí a escola sofreu no ano ado, pro Carnaval deste ano, um boicote. Aí tem dificuldade para ir pra avenida, muitas pessoas-chave na escola não engajaram na reta final do Carnaval. A escola não foi inteira para a avenida, foi rebaixada, e as pessoas abandonaram a escola”, afirma Paulino.
A partir desse cenário polarizado, então, a decisão teria sido por se seguir estritamente o que estava no estatuto da escola para a realização do pleito que se aproximava. “Depois do problema do desfile do boicote, as redes sociais ficaram complicadas, uma pessoa ofendendo a outra, acusações… Entendemos que se a informação pode acontecer na sede, ela aconteceu dessa forma. A sede estava sempre aberta, a gente divulgando eventos, uma série de atividades. Essas pessoas não estiveram na escola nos últimos três meses porque abandonaram a escola, viraram as costas para a escola”, critica ainda ele, afirmando que “a polarização política chegou na escola”.
Oposição na Leões da Mocidade cogita até judicializar o caso 6wv4z
Por outro lado, o grupo que pede a realização de um novo pleito para definir a direção da Leões da Mocidade ressalta que, quando alguém deseja se comunicar, procura divulgar sua mensagem. Já quem esconde sua mensagem só poderia desejar que ela não circule ou chegue apenas a poucas pessoas. E qual seria o motivo disso? Para eles, o que acontece é que a direção recém-eleita não queria um pleito com transparência, com a participação de todos os componentes, por causa do medo ou até da certeza da derrota.
“O Estatuto diz realmente que a convocação tem que ser por meio de um edital colado na parede da sede. Porém, esse Estatuto é arcaico. E em tempos de tecnologia, todos os comunicados são feitos por rede social, WhatsApp. E algo tão importante, uma eleição de uma instituição com 18 anos de existência, se faz um comunicado só com papel na parede?! Não faz sentido algum isso, foi feito pra ninguém participar”, critica Sesóstris.
Ainda segundo ele, aqueles que querem um novo pleito não esperam que isso vá acontecer a partir da boa vontade da diretoria comandada por Paulino. “A gente acredita que isso [nova eleição] vai acontecer só judicialmente. Só que a gente tem uma preocupação também de entrar na Justiça, demorar [para sair uma decisão], e a escola acabar perdendo os prazos de inscrição no próximo Carnaval, sabe? Isso não é algo que a gente quer que aconteça, mas se for inevitável, vamos judicializar”, emenda ainda ele.