Cate Blanchet como Lydia Tár: favorita ao Oscar de melhor atriz (Divulgação)

Lydia Tár é uma regente importante orquestra musical da Alemanha. Também é uma das poucas pessoas a ter ganho um Oscar, um Grammy, um Tony e um Emmy – todos os principais prêmios que uma pessoa como ela pode conseguir. Nas entrevistas, dá respostas inteligentes. Sua voz é meticulosamente empostada. A perfeição é a meta. Ela é forte, convicta. Poderosa mesmo. Como mostra o filme ‘Tár’, que estreia hoje em Curitiba, uma personagem assim não poderia ser interpretada por outra atriz que não a australiana Cate Blanchett.

Na verdade, a própria Lydia Tár virou uma intérprete de si mesma. Ela é uma mulher forte, firme, que precisa reforçar essa imagem o tempo todo para se manter no topo. Principalmente porque é uma mulher num universo dominado pelos homens – o das orquestras. Enquanto mantém essa aura poderosa, a maestrina toma atitudes eticamente contestáveis, como prejudicar alguns músicos e favorecer outros. Além disso, também assedia musicistas bonitas e novatas.

Contudo, Lydia Tár tem dificuldades para lidar com situações do mundo moderno. Uma delas, o comportamento de jovens estudantes de música que não valorizam compositores clássicos por causa da vida pessoal deles – o filme ilustra esse dilema com Johann Sebastian Bach, que era misógino, mas também era um gênio da música. Outra, a possibilidade de ser “cancelada”, algo comum nos tempos de hoje. Como Lydia Tár está num patamar alto, o tombo de lá é grande quando vem à tona um suposto um relacionamento abusivo com uma jovem musicista. E cabe à maestrina lidar com essas situações.

Cate Blanchett entrega em ‘Tár’ o que é provavelmente seu melhor desempenho na telona. E olha que ela já venceu dois Oscars: melhor atriz coadjuvante por ‘O Aviador’, em 2004, e melhor atriz por ‘Blue Jasmine’, de 2013. Não à toa, a performance por trás de Lydia Tar pode render à atriz sua terceira estatueta – ela foi indicada pelo filme e aparece como grande favorita na categoria. O longa ainda concorre em outras cinco categorias, como melhor filme, diretor (Todd Field), fotografia, edição e roteiro original (Todd Field, de novo; a história é toda dele e o filme não é cinebiografia de ninguém).

Em entrevistas de divulgação de ‘Tár’, Cate Blanchett itiu que o esforço foi tão grande que ela cogitou se aposentar, aos 53 anos. “Acho que foi porque era um papel tão físico, os ecos dele ainda estão comigo e acho que sou como muitos membros do público e preciso de um tempo para processá-lo. Então eu não quero trabalhar nunca mais”, disse a atriz, às risadas, em entrevista ao programa de TV ‘The Sunday Project’. “Obviamente, sou sortuda o suficiente para ter trabalhado com alguns diretores maravilhosos que mudaram minha vida, mas quando tudo se junta assim, isso fica com você”.