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Era só mais um retorno ao ginecologista. Eu nem lembrava exatamente o motivo da consulta, mas se estava agendado, era pra ir. Provavelmente alguma coisa referente à loucura da menopausa, climatério e desordens afins que acometem as mulheres prestes a abandonar a idade fértil. 

O médico – que já me conhece de outros partos e com quem tenho a liberdade de falar qualquer abobrinha numa maca ginecológica pra desopilar o constrangimento da situação – me pede os exames. Faço cara de conteúdo e começo a rir, porque, enfim, lembro do motivo da consulta. 

Uma ultrassonografia de abdômen total, solicitada em agosto, feita logo depois e cuidadosamente esquecida na minha mente fértil e acelerada. Mas eu não ia desperdiçar a visita. Graças à tecnologia, era só recuperar os resultados pela plataforma da clínica, protegida pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que impede que meus dados sensíveis fiquem se pirulitando por aí… enquanto me deixa refém de senhas que nunca lembro. 

Peguei o celular como quem pega um extintor de incêndio emocional. Só pensava em tudo o que tinha deixado pra fazer naquele dia por conta da consulta. Que ódio de mim mesma! Que saco essa tal de menopausa! 

Primeiro desafio: . Era só lembrar o e-mail. Fácil, né? Aham… Tentei o do trabalho, o pessoal, o de promoções inúteis. Todos falharam. Quando finalmente acertei – depois de ser bloqueada por “atividade suspeita” – chega a parte mais humilhante: a senha. 

Aquela que criei num momento de inspiração criativa, do tipo “NuncaVouEsquecer2023!”, mas esqueci no dia seguinte. Pra ajudar, o sarcasmo digital da plataforma pergunta: “Esqueceu sua senha?”

Esqueci. Esqueço tudo. Senhas, s, nomes dos conhecidos, os filhos na escola e corro o risco até de esquecer até que um dia fui gente.

Sigo a dica para esquecidos, recebo um código no e-mail e corro pra lá. O dito cujo não carrega, o 5G está uma droga e o wi-fi é um alfabeto polaco. Enquanto, na minha loucura, eu tentava ver o resultado do exame, do lado de fora uma meia dúzia de gestantes faceiras aguardava pacientemente na sala de espera pra descobrir quantas gramas seus futuros rebentos ganharam nas últimas semanas, se o coraçãozinho estava batendo comado, se já era possível saber o sexo e as vantagens do parto de cócoras. Pensamentos só faziam eu me sentir ainda mais tonta e alienada diante das reais urgências do mundo.

Olhei pro doutor com a cara mais lavada do mundo e avisei que mandava os resultados depois, por WhatsApp. Saí de lá certa de que a menopausa está hackeando meu cérebro. Só que ela a, mas as senhas ficam.

Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e faz todos os exames preventivos nas datas combinadas, só esquece de levar os resultados.